domingo, 14 de dezembro de 2008

Madrugadas


Sentiu-se desconfortável,
tentava arrumar uma posição
que pudesse relaxar,
ainda que no chão gelado,
afinal quando deitara ali
sabia que não ficaria
acordada por muito tempo,
a claridade suave da lua
entrava pela janela e
refletia gélida em sua posição,
sentiu então o silêncio
e notou-se já acordando.
Olhou para os lados
procurando pela situação
que tinha deixado
no último instante em que estava desperta,
tateou em busca do barulho, nada,
suspirou quando notou-se só
em meio ao descompasso
de uma sala de estar após um festejo.
Levantou-se entre as garrafas e bitucas
sentia-se incrivelmente desperta
e sentiu que não gostaria de dormir naquele momento.
O silêncio da rua era cortado
pelos caminhões que nunca param,
a lua já ia alta,
quanto tempo se passava,
não sabia e não importava,
era ela com ela e somente isso,
na varanda decidiu balançar-se na rede,
no embalo das árvores
que os seus olhos, estáticos, admiravam,
respirou fundo,
sentiu o peito crescendo,
e ficou assim,
sentindo coisas,
até que sorrisos surgissem,
múltiplos e intervalados,
entre o esquecimento de um
e a percepção de um novo surgindo,
este último sorriso lhe fugiu,
não o buscou,
e agora não havia mais consciência,
durmira novamente.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre a imperceptível (ou não) mão de obra de si


“Bom, mentirosa, aí está algo que sempre fui.” Falou mentalmente para si mesma enquanto se olhava na frente do espelho. Duas coisas que gostava de fazer, se olhar no espelho e falar consigo mesmo. Os dois juntos seria quase extasiante, se esta não fosse uma atividade tão cotidiana, mas apesar de ordinária, não sentia nada similar a comum em todas as ocasiões em que percebia que mais uma vez estava se admirando em frente ao espelho e que conversava com seus botões, então sorria. Tanto pelo reconhecimento da constatação quanto para se admirar novamente.

Ainda em frente ao espelho deixou-se levar pelos devaneios, fitou séria a si mesma, mas já não se via, estava em algum recôncavo de si, e neste local rememorava o que tinha acabado de se repetir. Mentirosa, era do que se chamava, para os outros também, mas o mais importante e segundo alguns, drástico, para si mesma! Refletia sobre isso de forma relativamente curiosa pois não conseguia perceber até onde o que ela sentia era verdadeiro e onde começava a fantasia, não sabia se submetida a um teste como o detector de mentiras o que seria apontado pois não tinha tanta convicção das suas convicções, claro, sentira-se triste, indignada, angustiada em sua vida mas não sabia ver de forma clara a veracidade desses sentimentos, ela os sentiu deveras? Ou os simulou como fora ensinada? Era de tal forma nebulosa essa questão para ela que se sentiu confusa de antemão e assim se sentindo se perguntou se assim se sentia verdadeiramente ou se repetira pra si que confusa estava para poder fugir desses questionamentos com a desculpa da confusão.

Percebeu-se no espelho, sua testa estava enrugada e novamente se questionava se assim não fazia só para satisfazer a reação esperada per si.“Meu coração acelera, minhas mãos ficam frias, as reações fisiológicas eu tenho.” Isso conta em favor da presença dos sentimentos, não é? Mal uma sensação de alívio a acertou e perguntou-se se aquilo não fazia parte de uma máscara, bem como sua testa enrugada para o espelho. (olhou-se. A testa ainda permanecia contraída).

Apesar de convicta que dificilmente iria alcançar uma resposta que lhe soasse honesta, continuou a devanear. Rememorou diálogos travados, palavras pesadas, medidas pra cada ocasião, até onde calou-se pra satisfazer o outro, até onde falou para posar para o outro, até onde se impôs para se mostrar a si mesma e definir-se. Até onde isso é real e onde começa a construção. “Aí está! Sou minha própria escultura” pensou como frase feita em um lampejo.

De novo percebeu sua presença, olhou mais uma vez seus traços avessos, tocou sua sobrancelha, observou quando entreabriu a boca e atentou-se para seus dentes, se distraindo ainda mais uma vez sentiu-se aspirada para dentro de si, estando lá, retornou a analisar seu dilema, se questionou se estava contente com sua definição (sua conquista no mundo das definições), se estaria angustiada com sua possível falta de vida própria ( pois a partir de agora via-se como uma títere de si mesma) e ao mesmo tempo que sentia um pouco de cada coisa pensava até onde ambos os sentimentos são verídicos, pois sentia-os pouco espontâneos, já que racionalizados, então de certa forma seriam premeditados e assim o sendo são tão lógicos como qualquer programação de computador. Então até a própria possibilidade de desespero perante tal afirmação se esvai sendo questionada antes do sentimento realmente apontar!

O chão rodou em sua volta, não sentia desespero, nem perto, aliás quase escapou-lhe um sorriso sarcástico perante todo o momento que acabara de passar em frente o espelho, perguntou ainda se o que estava fazendo ali seria a representação de uma cena de teatro ou o que os outros chamam de pensar.

Olhou-se e percebeu que estava bocejando e como por tomar consciência do que fazia o fez de forma prolongada. Falou silenciosa para si um boa noite, deu as costas ao espelho, que a refletiu ainda mais um segundo como se a roubasse por um instante sem que ela percebesse e então apagou a luz.


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Eu e eu. O burro vai na frente.



Este texto não é mais um dos textos egocêntricos (leia-se enquanto característica do textossimplesmente, tentando não dar valor perjorativo) que amontoam-se aqui, este vai tentar pôr no papel pensamentos vespertinos não sobre mim, mas sobre o Eu, mas já que escrito por mim, esta que digita deve ser sobre mim também.
Enfim, comecemos comigo, que contextualizei a idéia. Estava eu ( sim, eu, não o eu, desculpe a confusão, trata-se simplesmente de questões lingüísticas) a divagar sobre expectativas e ansiedades e notei que estas preocupações não se referiam a mim mesma, referiam-se a terceiros. Caro leitor, faço uma pausa para fazer uso de um recurso machadiano que tenho grande apreço para me dirigir a você pra especificar uma coisa relevante, pelo menos pra mim. Gostaria de deixar claro que não se trata de terceiros tão frios e distantes como a palavra em si pode soar, mas primeira pessoa só existe uma, esta que vos fala, então terceiros são pessoas próximas a mim e que suas ações podem e influenciam nas suas relações para comigo.
Partindo desse cenário (hurum, meu), não tive dúvidas, precisava me desligar dele e pensar mais sobre o Eu para voltar a pensar sobre mim. ( e no fim das contas trata-se sim de um texto egocêntrico, favor permanecer simplesmente constatando isso). Porque o Eu se desgasta com ações das quais ele não tem controle sobre e as quais não são suas, em nenhum âmbito, nem em origem nem em pertencimento? Sim, elas influenciam sobre o eu assim como qualquer outro fator externo, como a chuva que o molha, mas a chuva não pertence ao eu nem o eu gasta tempo refletindo sobre ter sido molhado. Sim, fatores vindo de terceiros podem ter mais relevância, realmente podem, podem trazer mudanças drásticas a vida do eu, mas afinal o fato desses terceiros fazerem parte do que o Eu reconhece já não é uma mudança de algo anterior a isso, tudo não está sempre mudando? Não quero dizer que o Eu deve ser impassível ao exterior a si, mas que reconheça como algo exterior, não é algo que faz parte dele, que pertença a ele.
Digo que o eu deve aproveitar cada coisa, ser curioso em relação a tudo, se encantar com todos os terceiros que queira e entender que isso são coisas que lhe são proporcionadas. Também digo que quando chegar a hora que por motivos externos (tanto quanto estes terceiros) for preciso desapegar-se, que o sofra tão intensamente quanto o seu encanto, se assim for o caso e entender que isso são coisas qu lhe são proporcionadas. Digo ainda que por ele entender que lhe é proporcionado e algo externo não quer dizer que é trivial. Mas que entenda que não é o Eu, ajudam a formar o eu momentâneo, que é tão transitório quanto tudo que o cerca, mas o eu é o único que enquanto existir que estará lá.
Que digo então? Que o Eu tem que se tornar mais egoísta? Não, ao contrário, ao reconhecer que existe o meio e o outro, respeite isso exatamente como o que é, externo e fora do seu controle, não-pertencente a si, por mais que isso possa influenciar no eu.
Que o eu liberte-se do ego que é ter o controle sobre outrem.


quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Re-olhar



Textos escritos em outros tempos... antes do blog, estão designados sobre a natureza de "Empoeirado".

21 (2006)

Um novo amanhecer surge
da guinada repentina da vida
eis que anseios novos se revelam
clamam por liberdade e realização.

Na aurora da vida
descuidada e desprotegida
ergueu-se com máscaras
que tomaram deliberadamente por face
e a creram bela forte e fria
como uma estátua
que do mais puro mármore é forjada.

Mas no desabrochar da vida
eis que esta toma vida
e clama por calor e proteção
e no labirinto perdida
descobre ambos e nenhum
em sua confusão e somente nela
o inesperado surge:

És livre!
pequena, frágil, gigante bizonha
de tal forma contraditória
da mente mais esquizofrênica
vem o único pensamento que
é passivel de ser concebido

Voar!!

O nosso amor a gente inventa pra se distrair....

..relacionamentos...complicado né?quando acabam, fica tudo desnorteado, você se pergunta como você poderia ficar sem aquela pessoa que te fazia tão bem, seu chão cai e você não sabe para onde ir, mas o tempo cura e suas metas voltam a ser só suas,você tem mais tempo para pensar em você e nos seus sonhos...e aí você nota: como o amor te consome! não é ruim, não não... mas é deveras chamas, eternas enquanto duram, e quando acaba, quando acaba o tempo em que você fica pensando só naquilo, quando você pode se focar em você próprio de volta, você nota como você mudou, se dedica tanto a outra pessoa, em pensamentos ou em ações e quando não há mais isso, nossa! uma vida! e linda! é tua, só tua...
O passado não te alcança mais, está lá presente e foi bom, muito bom e sempre estará bem na sua memória, mas não te atinge mais, acabou-se, deixou de existir pois há uma barreira temporal, que para muitos demoram, para outros nem tanto...

inquietações (2006)

Hoje acordei sem rumo
no centro do desespero
sentindo segundos passando como se fossem anos
e a cada instante que passava
eu não sabia o rumo a seguir
a cada instante que eu percebia
que a muito eu percebo isso
o teto está ruindo
e eu estou embaixo
sem saber o que fazer
se pego a esquerda ou se pulo pela janela...
não sei se o local que me encontro
é onde deveria estar
posso voltar por onde vim?
devo voltar?
não, não acho q a questão seja essa...
acho que a questão
é minha eterna maneira de ficar no se..
e assim vou sendo consumida
assim como as chamas fazem com o oxigênio
segundo após segundo...

CORRUPÇÃO

como nos acostumanos a ela?
aos poucos?
como somos hipócritas..
queremos mudar o mundo....mas não fazemos por onde.
ah mas eu faço algo. onde? no nosso dia-a-dia, nas nossas ações cotidianas?
chegamos a fazer isso? e se realmente fizermos?
ah, inflamos o nosso ego e achamos que fazemos nossa parte.
é o suficiente? não, não é.... "ah, mas é algo.."
será que não é pior? pelo efeito placebo que tem
vamos pra casa, crentes que estamos bem, que somos bons.
e nos questionamos? pq o mundo é assim?
e nos sentimos tristes, culpados "podia estar fazendo mais" e
de repente estamos bem de novo.
bem por que somos bons, nos importamos, eu enxergo e faço pouco, mas eu enxergo e esses filhos da puta que pisam e nem veêm, nem olham para o lado.
mas eu...eu sim...os meninos de rua cheirando cola me comovem, as favelas, a desgraça alheia me toca.
eu sinto a dor do mundo.
eu choro por isso.
e isso me faz bem
engraçado a lógica hipócrita que temos.
eu me comovo, quero mudar o mundo, se eu tenhpo esse sentimento em mim,
então eu sou bom.
e logo estou bem...não posso fazer nada...mas eu quero...quero mudar o mundo.
agora me sinto pior, mas vou dormir bem, sei disso, posso não fazê-lo hoje
mas não posso fazer nada, mas eu quero...quero mudar o mundo.
bons sonhos.


AH, ENFIA...

Quase nada (2006)

O que pensas?
imagina a dia que não mais existirá?
quando a morte bate em sua porta
somente para fazer uma visita
suas veias congelam
ou simplesmente sente calma?

tão curta é a nossa existência
nos preocupamos com tão pouco
e quase não vivemos
sobrevivemos ao jogo de comer-dormir
e assim levamos
e quando um susto
nos aponta o fim de tudo
a sua vida não passa na sua frente
e você não sente dor
na verdade, você quase não pensa.

por um fio e na verdade
não há medo, não há nada.
só há medo enquanto há vida,
o medo de nos tornarmos nada.

mas porque? (2006)

Por que estático?
o que me aponta, o que me é visível e repugnante,
será que eu não sinto?
perdi minha sensibilidade, não tenho motivação
por que nos tornamos dormentes?

o que nso afeta?
por que somos fúteis?
o que tem valor para nós?
eu vejo, eu choro, me revolto,
por que estático?

queremos mudar o mundo,
todos juntos somos fortes,
mas não arcamos com isso
será que podemos esperar pelo
alvorecer de um novo dia?

as vezes preferimos não pensar
é sufocante,
a dor do mundo é gigantesca
precisamos de refúgio
e o fazemos nas coisas mais estúpidas
sendo o mais contraditórios possíveis
e é quase extasiante...ah sim..
a alienação é bela,
pois inconsequente.

isso nos é permetido
somos a minoria do mundo que
temos o luxo de saber
e de não fazer nada
e mais uma vez me questiono
por que estático?

Sem título - 2006

As Vezes só o vazio reconforta,
ironicamente te preenche
o ócio é necessário
para reflexão, é prazeroso,
parece que sua vida está correndo mais devagar
e você relaxa..
passa o tempo que você
acredita não ter nada com o que gastá-lo
nada seria mais satisfatório do que o nada
mas e quando você sente que só há isso?
Que tenta lembrar de coisas e não tem sucesso
só da ausência de coisas
por horas ele te devora,
e te faz pensar em como nós conseguimos
diminuir a nossa existência
e como nos resumimos a coisas fúteis,
a simples sobrevivência,
nós criamos mais do que isso
deveríamos viver mais do que isso,não?
o tão poderoso homem, preso, solitário,
em teu tão idolatrado ciclo sem fim,
nascer, crescer,absorver.
absorver valores e informações...
como uma esponja que não pensa
( não, pensar não, não te criam para isso, não criança, não se engane..)
tornar-se máquina, parte da engrenagem
chamada sociedade e se auto-enganar
achando-se necessário..
o resto é só para complementar:
a segurança do lar! ah, a paz familiar!
a mentira de que são aquelas pessoas que você ama
e elas que importam, só elas,
e você se resume mais e mais..
mas não, que é isso? que tristeza é essa camarada?
não percebes?então você está feliz, está completo!
afinal, o que um homem pode mais querer?
estou pronto para a morte e desejo ao meus descendentes
o mesmo que aconteceu a mim...
e você pensa: ah a vida passou rápido...

será? ou foi você que se enterrou?

Amor Livre (2006)

Sem medo e sem pudor
me entregar em teus braços,
despir meu corpo para ele,
e para aquele ainda que sempre tive
carinho,
e tocar todos os lábios
com toda a voluoptuosidade
que eu e só eu me permitir.

Saiam! Será que não percebem
que os instintos que nos guiam
não são pecaminosos
e nem podem ser julgados?
Que não há nada que não os outros
e seus gordos olhos reprimidos e tristes desejosos
de nos frear?

Temos liberdade e desejo para tal
e devemos (e iremos) nos guiar pelo nosso coração
sim, este que nos guia.

Mas não somos carne,
não somos puro desejo,
Somos sentimento,
amplo, nunca limitado
sem posse, difuso
alternante!

Amizade.

Devia procurar saber a origem de tal palavra...aliás farei isso depois...

O caminho que você vai trilhando é sua vida mas não é o ato de caminhar que importa, isso é a única coisa que você pode fazer, mas a forma como você interage com o caminho, com o que você encontra com o que você vê é o que preenche as suas memórias, te dá as cicatrizes que permitem que você note que você passou por um caminho mais espinhento e é o perfume das rosas que impregna em suas narinas que permitem que você sorria quando lembrar daqueles belos dias de jardim..e caminhar e lembrar de pessoas queridas, de pecorrer vários caminhos com essas pessoas e só de saber que você sempre vai se surpreender enquanto você caminhar.....isso tem muito valor não é?

O caminho você pecorrerá, você não pode parar, não é natural, mas se você vai seguir em um campo ou em um corredor gélido isso cabe a você. A vida é interação.
Biologicamente, fisicamente, quimicamente e emocionalmente falando...
na verdade não viemos só ao mundo e não iremos só..

"nada no mundo se perde, nada se ganha, tudo se transforma"

Time stand still

As vezes parece q o tempo está indo bem devagar,
as vezes , você sente que precisa de um casulo
de férias de viver...
ou sente tudo girando muito rápido,
você não consegue acompanhar,ou se recusa

o tempo não pára....
pessoas seguindo o ciclo
nascer crescer reproduiz morrer
nascer crescer reproduiz morrer
nascer crescer reproduiz morrer
nascer crescer reproduiz morrer
e você? não chegou no segundo passo ainda...
só que logo logo...
estará morto.

Nada a Declarar (2006)

Queria me livrar do peso do mundo
(pequeno no meu caso é verdade)
não queria nada que pesasse sobre mim!
Queria um tempo meu,
só meu.]
Sem obrigações, sem dever de casa,
sem dar banho no cachorro
ou em mim mesma
Queria me dedicar ao nada,
me isolar da carga da interação com a sociedade,
não sustentar o fazer do cotidiano,
queria ainda o contato com as pessoas,
não falo em reclusao,
preciso da criatividade delas para a minha,
das dúvidas alheias para me questionar,
mas queria viver um tempo só para mim
no desejo mais egoísta de dedicar-se a mim,
só a mim.]
Às leituras, ao ócio, ao prazer
e à crise,esta companheira necessária
que me leva sempre na estrada da mutação.

A dualidade da vida (quase poesia 2006)

Crises verdadeiras,
devido as múltiplas opções
e o não-ato da tua vida, o passivo.
nova perspectiva
alegria do vasto, do amplo...
o problema não é a variedade,
podes abraçar mais de uma coisa
mas não abraças nenhuma.
o problemas és tu.
que culpa a diversidade
diz que não sabes se
A,B,C,D? ou E?
tsc tsc tsc
verdadeiramente não é isso
acuada em um canto,
é o ato em si de levantar o braço
para apontar X ou Y, não a escolha em si.
é o medo de levantar o braço,
antecipando uma possivel distenção
ou sei lá...



ah, infante!!!!se não tens coragem de viver a vida,
saibas então que não viverás!!

Papai e mamãe (Quase Poesia 2006)

Mais uma vez
igualmente
repetidamente
ciclicamente
retornando
ao mesmo ponto

sempre
sempre assim
de novo
e ainda mais uma vez

passivo...

enquanto
não mudares de posição
só levarás do mesmo jeito.

Ode ao ócio ( quase Poesia 2006)

Culpa do nada
Fazer nada com o nada
ócio,
por que sentes culpa?
sensação de perda de tempo
tempo de que?
tempo de vida? tempo de trabalho?
desperdicio...
será?
por te imprimem culpa?

apatia
esse eterno ciclo
sem sentido
eis o motivo
meras máquinas
rodando o moinho da sociedade
esquecendo que esta é formada de individuos
deixando de ser individuos
tornando-se formigas
meras formigas
tão perfeitas...somos?

descanso dos menbros
descanso da mente
mente livre
livre para criatividade
sinal de alerta
perigo sempre!
o coro, não ouves?
a massa uniforme
nos chamando
nos englobando
pouco a pouco
perigo perigo

sim, nos culpam
sentimo-nos culpados
nos comparando
não estão servindo o suficiente
eterna produtividade
mais e mais e ainda mais
não cumpres?
ultrapassado
serás descartado...

que assim seja!
serei individuo,
ocioso,
criativo!

contraponto ; ponto contra. (quase poesia 2007)

queria-te aqui...
mas...
pra que havia de querer?

não tenho domínio sobre mim,
me demonstro uma verdadeira incógnita
ah, queres me desvendar?
queres me dominar?

me dizer o que quero?
como haveria de dizer isso,
o que quero...?
se nem eu o sei?

não.
pra ser assim,
prefiro ser sozinha
ser parte,
e não precisar de ti pra ser inteira
ser frágil
e não precisar de ti pra me consertar
ser silêncio
e não precisar de ti pra me ouvir
prefiro ainda a mim.

até poder querer a ti também,
não como meu,
não como metade
não como voz
não como força...
mas como você.


mas ainda assim
queria-te aqui.

Conto: Jahcom 2007

Era uma vez uma pobre gansa chamada Jahcom, essa gansa na verdade não era pobre em termos materiais nem em termos emocionais, espirituais talvez, mas não era algo que necessariamente a abalava, não mais pelo menos...o pobre foi colocado simplesmente para adjetivar a nossa ilustre protagonista.
Notaram como isso foi feito novamente?
Jahcom era uma gansa comum, filha de classe média, nunca passou muitas dificuldades na vida, seus pais são típicos comerciantes, que como bons protestantes que são, dedicam ( e assim dignificam, não é verdade?) a sua vida ao Deus trabalho. E como esforçados trabalhadores sabem o suor necessário para o sustento dos seus filhos, sempre fizeram questão de ensinar as verdades da vida para que suas crias pudessem fazer bao distinção do certo e do errado, exímios pais como todos os outros,dedicam a totalidade de sua vida sabendo que sua felicidade estará garantida e asegurada na vida melhor que seus filhotes, com certeza levaram. Assim prosseguem, vivendo em paz.
Parte II

Ainda sem título

Os pais de Jahcom já podem ser considerados nossos velhos conhecidos agora, não é verdade? É fácil visualizá-los, sua rotina de 12hrs dedicadas a sobrevivência, 8hrs de sono (afinal os médicos recomendam) e o bocado restante dedicados ao lazer, afinal nem só de pasto vive o ganso, é necessário o circo! ah, o bendito circo encaixotado na sala de estar, realmente uma beleza hein? Fantasias, amores, diversão e a bela vida desejada vivida pelos outros em apenas 45min diários e você nem precisa sair do sofá!
Pouco se pensa, menos se sofre e assim seguem zumbis respirando e contentes pois pelo menos fazem isso. Ah, caro amigo, imagino o que pensas " mas que horror! que forma de se viver!como não reagem?" Não o faça, não os culpe, se compadeça sim, de forma egoísta até, vendo o seu próprio reflexo neles ou de seus genitores, pois este é o destino da maioria dos gansos.
Espero que não o seu, mas na verdade você verá que não é tão ruim, é só seguir o fluxo do rio. Vamos lá, você é jovem e se diverte com seus amigos, sai com belas gansas e de repente você cresce e você precisa cumprir suas obrigações não é verdade? você tem uma função na sociedade e você precisa do pão, lógico que você faz o necessário, mas você se questiona" você é competente o suficiente?" você precisa de diplomas que te garantam a tal tão exigida empregabilidade, então corre atrás, se dedica e você precisa se esforçar pra ganhar um pouqinho mais pra poder ter direito a uma praia no domingão, afinal até o sabado você dedica aquela hora extra pra fazer aquela sonhada viagem no fim do ano. (senão o esforço não vale a pena!) De repente você cumpre a sua mais primitiva função biológica. Você nem esperava! Afinal está com a Júlia a quanto tempo? 10 anos já? puxa vida! mas você já está acostumado a presença dela, vocês não brigam mais tanto, tenho certeza que será uma boa mãe pros seus filhos. Meus parabéns!
Sua vida mudou tanto hein? claro, você precisa trabalhar mais, novas bocas dependem de você, a educação é tão cara e você só quer o melhor pros seus filhos, realmente as suas prioridades mudaram, nada de viagem mais mas pelo menos seus filhos vão aprender inglês, é necessário no mundo de hoje e você sempre achou tão bonito, quis aprender já mas nunca teve tempo. Você não fica triste, pelo menos não se sente assim, as vezes se sente frustado, como se estivesse sendo sufocado por alguma coisa invisível, mas não pode perder tempo pensando bobagens, melhor se concentrar no trabalho, afinal a empresa está fazendo corte do pessoal e você precisa garantir o seu... (não seria a hora de ver se o patrão não gostaria de um cafézinho?)
Parte III

E nossa protagonista? Por onde andará que não a encontramos ainda no desenrolar dessa estória? Calma, meus caros, não é por nada que a autora demora a sua aparição, é só mais um desses casos onde o texto segue por si só, os pais de Jahcom foi uma reflexão deveras interessante, apesar de não se constituir de forma exatamente original, mas no entanto me absorvi no desenrolar daquela idéia.
Jahcom, assim como a autora reflete sobre seus pais, além do natural medo do mesmo destino, ela pensa em como se relaciona com eles. Ama seus pais de forma pouco carinhosa é verdade, manifestações de carinho nunca foram especialidade do seio familiar ao qual fez parte, o que não torna a pobre gansa uma moça insensível, de maneira alguma, demosntra-se bem carente se der uma olhada mais de perto mas isso é assunto que surgirá mais para frente. Acha que na verdade a avaliação do laço sanguíneo seja um dos motivos que ela encontra para ter afeto por esses personagens.
Ela encontra muito defeitos nos seus pais, muito mais na figura paterna é verdadeiro, e na realidade o "amar apesar deles" é uma atividade de natureza difícil. Mas mesmo assim ela os ama e sabe que é também querida por estes.
Divaga as vezes se na realidade não é um sentimento de posse da parte deles ,tipo o cuidado com um jarro de porcelana chinesa valioso, típico de todas as formas de relacionamento pessoal da nossa sociedade comercial. Essa loja de conveniências que é a sociedade ociedental onde os genitores veêm a própria extensão nos filhos e assim amam na realidade a si mesmos e o seu umbigocentrismo não os permite visualizar que ali no seu filho, criado por eles, está não outro individuo e sim a "grande obra de suas vidas", ou seja algo pelo qual eles podem se orgulhar de ter feito. Ah, o orgulho da família! "o meu orgulhodo que realizei enquanto pai/mãe!","sou responsável pelo que está aí! desde que seja positivo claro, caso contrário más influências disvirtuaram minhs criança do caminho, a minha função eu cumpri!".
Mas uma vez espero que não estejam julgando os nossos personagens, não devemos fazê-lo, nem Jahcom por ela fazer esse tipo de analise tão fria sobre seus pais. Ela não se abstêm do processo do seu relacionemento familiar, caso for verdadeiro o seu raciocínio ela não os culpa. Até por que se questiona até onde pode ser considerado amor o que sente por seus pais, pois pensa se não existe uma identificação entre eles e seus momentos de convivência forçada sempre foram tão tumultuados e sempre tão evidentemente sucedidos por pura obrigação dessa relação parental como poderiam realmente se gostar? não, não, ela acha que é outra coisa, é gratidão e respeito pela vida perdida para gerar e manter a dela, é pena pelo mesmo motivo, é um sentimento complexo em alto grau mas que gera um desvelo imensurável de ambas as partes.
(incompleto)

Uma carta-texto nunca enviada. Julho 2007

Hoje, um coração manso...
pensamentos ocasionais em pessoas, mas nada que tenha me acalentado o coração
um lagarto, de sangre frio...o clima determinando as sensações do ser.
As vezes parece que o sentir some ou some mesmo, perde o brilho,
estrelas que morrem, esfriam e aparentam nunca ter existido.

A ausência não chega a ser de todo má compania e você se acostuma...
quando náo há perspectivas de tempo isso é mais claro.
Nas laterias não, no pré e pós momento é intenso, forte.
A alma já inquieta fica apertada,
nos caminhos do meio, tudo é mediano, a vida é morna
"é bom, mas é rotineiro" "tem seus defeitos, mas faz parte."

claro, certas ocasiões:
uma surpresa, uma lembrança de outrora, uma imagem:
fuuuuuuuuup viagem no tempo!
O eu tensiona, acelera, entristece e
sabe que o único lugar onde não quer estar é aqui,
no hoje.

Entre cobertores, o eu derramou lágrimas,
quando o fez foi porque pressentiu o hoje,
sabia que esse dia chegaria.
Não pôde explicar pra outrem o porque da salmoura quente derramada em dias ainda quentes

não era medo das nuvens que fechariam o tempo tornando a vida imperceptivel pra o eu de mim mesma, nao tratava-se disso.
Sei que no amanhã a expectativa é do depois de amanhã
mas o receio do hoje no ontem, ah como abalou
amanhã seja como for, não se trata disso
mas foi a postura do eu ontem
no ontem eu não podia admitir o hoje,
podia aceitar a expectativa do amanhã,
mas não o hoje
ontem eu só podia admitir o próprio momento!
por isso o choro tolo...

com a alma a mil,
não quis calar o coração, mas o fiz
e assim hoje lamento com pesar
o silêncio d'alma quando esta queria cantar.

conto 2007- sem nome

Hoje o despertador não tocou, não foi preciso, o calor do quarto e o barulho da rua foram suficientes para que se levantasse. Acordou bem, aproveitou que estavam dormindo ainda e fez suas obrigações, arrumou a cozinha, varreu a casa, preparou café da manhã para sua família, ao passar o café começou a sentir o movimento da casa. Portas se abrindo, água do chuveiro no banheiro, bom dias discretos, sorrisos de boca. Mais um dia que se inicia, como qualquer outro, o café da manhã com conversas aleatórias e paralelas sobre suas vidas distintas “ soube que fulana vai viajar de novo”, “ dormi feito pedra”, “ouvi dizer que as ondas que o celular emite são capazes de cozer um ovo”. Café da manhã em família, apesar da pouca sintonia, se diverte com isso, acha interessante observar o humor de cada um e poder interagir com cada membro da forma que mais agrade a ambos, sem criar atritos, não, no café da manhã não.
Teve vontade de sair, aproveitar o dia fora do recinto, mas não soube para onde, talvez visitar seu amigo de cama, sentiu moleza só de pensar nos ônibus que teria que pegar, por que tudo nessa cidade é tão distante? Ainda pensou em dar uma volta, afinal, caminhar é tão bom! No entanto, foi como somar que dois e dois são quatro quando refletiu que as ruas tortas e desgrenhadas do bairro que habita não são, digamos, uma praça do Inácio Barbosa, além do mais sair as dez da manhã em pleno verão, sem sentir uma única brisa não ajuda neste belo cenário. Não, desistiu. Achou melhor ligar o computador e ouvir música, sim, a música alegra a alma. A possibilidade de ter acesso a quase todo tipo de música simplesmente por estar conectado a internet é uma coisa realmente deslumbrante, não acha? Passou a manhã nesse ritmo, música, e-mails, notícias, tirinhas, curtas, sempre gostou de amenidades, acha as amenidades uma fatia importante da vida, sorrir descompromissadamente , realmente uma grande fatia da vida.
Meio dia. O calor estava incrivelmente insuportável, começou a se sentir mal, a essa hora não sabia mais quanto de água já havia tomado, mas a garganta permanecia seca, pensou no banho necessário, mas sentiu preguiça de levantar, o calor tem dessas coisas, achou melhor enquanto esperava a coragem chegar aproveitar a confortável posição entre almofadas mais alguns instantes para refletir sobre a vida. Fim de ano tem dessas coisas, faz-se uma espécie de balancete do que foi feito e do que ficou pendente, claro que trata-se de uma medida artificial mas gosta de levá-la em conta afinal, podia fazer o balancete em maio ou em setembro mas por que se preocupar com isso? Não há necessidade, o que está instituído socialmente lhe convém, faz seu balancete como todos fim de ano.
Acendeu um cigarro e então pensou no vício eminente... No ócio vivido, nas obrigações não cumpridas, nas boas experiências profissionais ( mesmo que fugazes), no descaso paradoxal para com atividades almejadas, nos amores distantes, na ausência dos amigos e sentiu-se impaciente com aquilo tudo, percebeu que naquele instante nada lhe apetecia, não havia objetividade em suas ações, uma sensação de vazio lhe corroeu. Suspirou, e naquele momento a vida só existia fora de si, o seu eu era só uma presença, como uma casca. Refletiu que não havia nenhum movimento de briga, de gana, nem os registros mais sutis no chão que indicasse isso, tudo era proporcionado, caído do céu, o caráter positivo do que lhe foi presenteado não fazia a menor diferença naquele instante e pensar nisso foi como empurrar-lhe pelos degraus de uma escada, mas do primeiro andar, sem danos letais, dores ocasionadas pelas escoriações sofridas do tombo e olhos trêmulos de lágrimas por sentir-se um ser medíocre na sua tão prezada vida.
Achou melhor levantar-se, tomar banho, seguir rumo, mas agora, não estava muito disposto a cumprir sua rotina, mas não estava com o humor necessário para passeios, queria se distrair. Banho, decidiu lavar os cabelos, assim sentiria a sensação de frescor por mais tempo, mesmo assim o calor deixava uma sensação abafada que sufocava, esse verão realmente vai ser difícil, ainda mais nessa cidade litorânea onde não se pode ir as praias. Não foi a aula, oscilou entre cumprir obrigações e seguir seus ímpetos, optou pelo segundo apesar de não saber se o fez porque era mais confortável ou porque realmente queria fazer outras coisas, quis, mas não fez, permaneceu em casa, olhando para o teto, tantas vezes olhando pro teto e durante o resto do dia não quis mais ouvir música....
O corpo foi acostumando com aquela sensação e sem saber se ela foi incorporada deixando-o mais rígido,teso ou se esvaeceu foi se distraindo, lendo, conversando, pensou mais algumas vezes naqueles pensamentos e se viu como um cristão, apesar de não o ser, vive em uma sociedade que é, adquiriu características, cultivando flagelos, lembrou-se de uma ou duas conversa sobre ação, sobre práxis, sobre hipocrisia, quis aprofundar-se nisso, suspirou e não o fez, estava cansado.

Na Terra do Nunca

A principal razão para desenvolver um texto para si mesmo é reduzir em palavras sua s reflexões, com a premissa de compreender o que passa dentro de si.
É tentar seguir seu pensamento... que vai, vai lá na frente, velozmente, tentar ao máximo conectar as imagens em palavras, que possam descrever minimamente algo, por menor que seja dos devaneios...
No meio do turbilhão, seguir uma única entidade da manada que pulula na cabeça concomitantemente, e por vezes, alterar o alvo inicial, mas sempre com o limite de seguir um único raciocínio, limite estabelecido pela própria linguagem.
Mas com o alvo a mira, como um predador, segui-lo atento, captura-lo, estraçalha-lo e consumi-lo... Lenta aprendiz, por vezes infindáveis dissecar antropofagicamente o mesmo objeto, sempre sentindo nostalgia e, no entanto novidade, ainda nessa eterna missão de auto-(re)conhecimento.
Com o repassar dos sentidos sobre os pensamentos, estes quando não mudam, ou quando os nossos sentidos que mudam sobre ele, amadurecem, cimentam, pesam e ao tocar o chão, saem do plano abstrato para a concretude das ações, viram realidade, cotidiano ou aventura, mas realidade...
Mas nem tudo são flores, meus caros, ocorre que a depender da alma viva portadora dos delírios, estes nunca descem, como se fosse na Terra do Nunca, voam, idealizados, romantizados, maravilhosos... porém, abstratos..como belos e tristes fantasmas, como a alva névoa dos incensos...distantes, ficam na eternidade infantil do quase.
O medo não permite o tropeço, a possibilidade de ser menos do que a expectativa... Então eles são novamente pensados, repensados, analisados, refletidos, despedaçados, reconstituídos, nunca consum(i)(a)dos.
Então, novo desvario surge, devaneio sobre a não-sedimentação dos devaneios! E como um ciclo, isso é pensado, investigado, pormenorizado, esmiuçado...
segue-se assim; requentando quimeras em microondas.


palavra da vez...requentar ;)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Romantismo


Coração. pá-pápá, pá-pápá, pá-papá. Assim sabia que estava ansiosa, tentava disfarçar. Pros outros era mais fácil, movimentos lentos e sorrisos meio-abertos lhe emprestavam todo um aspecto sereno que não deixava transparecer a terceiros a tormenta dentro de si, em relação a eles, estava segura.
Para ela mesma era mais complicado, no entanto tentava distrair-se, fazer o tempo passar, ora com música, ora com livros ou qualquer outro recurso que evitasse ficar olhando para a parede enquanto o relógio anda irritadiçamente no mesmo tempo de sempre.
Por toda a vida fora assim, extremamente ansiosa, como quem tem tanta pressa de viver que não vive. Ironia, por medo dos tropeços ou por viver mentalmente aqueles dois minutos de algo por tardes inteiras de nada. Castelos de areia predizendo momentos que nunca se repetiam como foram em seus pensamentos. E o coração pá-pápá, pá-pápá, pá-pápá. Assim sabia, não podia se enganar, o frio no estômago e o coração, lá, constante, alto. Pá-pápá.
Enquanto vivesse nesses cinco minutos para o que quer que fosse, estaria dessa forma, mãos geladas e o coração...lá.

sábado, 4 de outubro de 2008


Acordou.
Era domingo, dia de brincar, levantou-se num pulo ainda cedinho do dia, foi escovar os dentes e notou que estava despelando da praia de ontem, riu consigo mesma e com a mesma perversidade que esmagava as formigas que passeeavam enquanto ela tomava café, distraiu-se puxando sua pele morta, vez ou outra se machucando, quando então notou que não queria mais fazer isso e correu pra rua com sua pipa embaixo do braço, pôs o dedo dentro da sua boca e sem saber exatamente o que percebia com aquele ato, exclamou pra si mesma " é hoje!"
Acordou.
Era domingo, dia que sua mãe permitia que ela fosse passear com suas amigas, desde que arrumasse seu quarto e limpasse a cozinha, fez tudo isso rapidamente, sem muito esmero, pensando unicamente em passear, depois de uma semana longa de provas. Enquanto escovava os dentes, pensava naquela espinhas que começavam a surgir em seu rosto. Saiu então, mentindo para sua mãe sobre com quem ia sair, quando esta te perguntou quantos meninos iam, disse que só ia o namoradinho da Carlinha, quando na verdade iam exatos três meninos e três meninas e ela sabia que eles iam brincar de verdade ou desafio e riu consigo mesma dos seus novos segredos.
Acordou.
Era domingo, levantou depois das doze com gritos de sua mãe perguntando se ela ia dormir o dia inteiro, meio que se arrastou ao banheiro, onde escovou os dentes preocupada se mãe notaria que ela ainda estava levemente bêbada, mesmo preocupada não conseguiu não esboçar um sorriso, passara no vestibular e bebera até o amanhecer com suas amigas.
Acordou.
Era domingo, enquanto estava em frente ao espelho ensaiava mais uma vez a apresentação de sua monografia, seu namorado estava a olhando rindo, querendo a despreocupar, mas ela não conseguia conter aquele imenso buraco no estômago que a sugava. Logo estaria formada. Entre essas preocupações lembrou com alegria do que vivenciou na universidade e levou um pequeno susto em como passou rápido.
Acordou.
Era domingo, não estava claro ainda, mas o pequeno Angelo chorava novamente pedindo pelo seu peito, levantou-se rapidamente querendo evitar que Clara acordasse também e quisesse vir a sua cama. Enquanto ninava seu filhote, se viu no espelho e suspirou dando-se conta que fios prateados surgiram em seus cabelos.
Acordou.
Era domingo e chamou as crianças para um rápido café, pois sabia que estes queriam ir brincar e depois que Angelo se sentasse em frente ao videogame, seria terrível conseguir que ele fizesse qualquer coisa. Depois teria que preparar um belo almoço, faria um churrasco para os amigos e uma bela e grande sobremesa para todas as crianças. Se viu um pouco chateada, já antecipando a bagunça, mas há tanto tempo não tinha tempo para suas amigas, que achou por bem continuar com o combinado.
Acordou.
Domingo. não queria levantar da cama, sabia que Clara não tinha chegado ainda e que mentiria sobre onde estava, preferiu não checar o quarto e não ter que fazer perguntas. Sentiu falta de sua mãe e se sentiu muito só no mundo, penteou os cabelos sem olhar para a pessoa do outro lado no espelho e sem saber exatamente o que a aflingia, chorou.
Acordou.
Domingo. Olhou para o espelho e notou que não se reconhecia. Pensou sobre isso um pouco, um leve estremecimento que engoliu em seco e logo voltou a se preocupar com coisas cotidianas. Ia precisar tomar conta de seu primeiro neto e estava feliz com a presença de crianças na sala de novo. Estava ansiosa também que logo se aposentaria e poderia dedicar mais tempo a si.
Acordou.
Era Domingo. Mais um dia como os outros, que simplesmente passavam, a televisão ajudava a passar o tempo, mas desde que seu marido morrera não tinha muito ânimo para passear no parque ou ir ao cinema ( gostava tanto das caminhadas no parque), chorava e lamentava não ter com quem conversar, quase não via seus filhos. estava sozinha. Estava velha, não era ela, mas sentia que também não podia mais o ser. Estava cansada de domingos.
Não acordou.

Capítulo 4. Desvivo, mas não morro. (Final)


Gostava da vida e não queria simplesmente se desfazer dela. Tinha um grande medo da Dona (da) Morte. Um medo infantil diriam alguns, o destino de todos os vivos é a morte, no entanto esse era o seu grande medo, não era não saber quando viria ou se sofreria, mas simplesmente não queria deixar-se a si mesmo e por isso o terror em ver os anos passando como cometas, anos passados e cada vez mais próximo de despedir-se de si, isso fazia com que sentisse pulsações na boca de seu estômago pois gostava de existir, mesmo que fosse em sua sobrevida.
Pouco fazendo, mas nunca pouco sentindo e por nunca pouco-sentir achava que em alguma pequena medida, vivia.
Vivia, pensava e existia. alegrava-se com isso, não, não estava satisfeito, queria consumir o doce sumo que a vida tinha a oferecer, assim podia ser mais ele, podia mais, podia ser, podia ele. Mas, quando maquinalmente tentava oferecer-se ser ou vivenciar situações agradáveis, estas nunca o eram, ou o eram raramente, conseguir vencer a obrigatoriedade do sorriso acabava com suas expectativas de o ceder a outrem, então saía nas ruas olhando as máscaras de alegria e não queria vesti-la, preferia a máscara do meio sorriso, nõ tinha porque ser desagradável com as máscaras mas dentro de sua própria máscara não via porque (talvez a própria máscara não o permitisse enxergar) tentar vencer a superficialidade das lisas porcelanas.
Inquieto com as quase-relações que não o permitiam expandir, angustiado com sua preguiça e ambivalência, desgostoso com a falta de objetividade e possibilidade em sua vida (pois há muito desistira de fazer o papel de máquina na engrenagem social e com a possibilidade de quebrar o relógio), insosso pelo dia a dia, de certa forma estava bem mesmo quando se sentia triste por não ser mais.
Estava preso em sua confortável vida, pois existia e existir no fim do dia sempre valia mais.
Antenor entendia tudo isso, preferia no entanto não se importar, se importara tanto, esquecera a quantidade de vezes que pensou nos mesmos desvios de si, as mesmas cicatrizes que não sangravam mais, mas estavam lá para quando desse com os olhos nelas sentisse a dor de carrega-las, sem podê-las deixar, querendo as maquiar e fazendo isso as vezes, para que ele mesmo não as visse mas o temor que uma chuva repentina as revelasse quando menos esperasse deixavam ele ainda mais ansioso.
A vida de Antenor segue e ele segue com ela, horas sorrindo, horas não, mas sempre aliviado com sua existência.
Não era pouco, não pra ele. talvez pra terceiros e quintos, pra ele que era um só e que vivia no rascunho, era muito, estava lá, sendo passivo, objeto da ação, o mundo rodando e ele sendo rodado pelo mundo.
E essa simples vertigem não era maravilhosa? Queria mais, inerente a maior parte dos viventes, querer é verbo consciente de si mesmo, e ele queria.
Queria a vertigem de rodar o mundo, talvez conseguisse, mas não realizar era um verbo ao qual não estava acostumado, estava acostumado em ser.
E era.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Capítulo 3. Nomes e definições


Atende por Antenor. Dei-me conta que as devidas apresentações ainda não foram feitas. Uma gafe, é verdade, diante do fato de estarmos descrevendo o dito cujo, falando de sua personalidade e ainda não sabermos sua graça, como poderíamos assim nos tornarmos intímos? Engraçado como saber o nome do objeto de estudo faz com que ele deixe de ser exatamente isso pra nós, cria-se uma intimidade, um rosto e possivelmente até cogitamos que sua cor favorita seja o roxo. Não era, era azul.
Antenor. Esse era o seu nome. Para ele tratava-se de uma ironia. O seu nome, advindo do grego significa adversário. Como nunca fora determinista e só soubera do significado do seu nome já com vinte e três anos, só pôde rir quando leu o significado em um livro de nomes para bebês, sua mãe havia lhe dado o nome que definia a maneira exata de como se sentia, um adversário de si mesmo. Quando questionou sua mãe sobre o nome, ouviu um “ oxi menino, e eu achava que tinha era a ver era com múscia, tenor, num é que se diz? Então, Antenor. Achei tão bonito...” então, sem maiores expectativas, balançou a cabeça e partiu.
Foi mais um fato a que deu pouca importância (apesar de achar curioso) mas, sempre carregou a definição consigo daí pra frente, não pelo simbolismo, mas porque achava que achara a palavra exata para definir a sua bipolaridade.
Adversário. Aquele com que você está em um embate. Se perguntava se nesse jogo estavam ambos perdendo, ele e ele mesmo. A pergunta tendenciosa já predispunha de resposta, apesar de nunca ter dito em voz alta, talvez até o tenha dito, mas com certeza, não ouviu a si próprio. Preferia a dúvida da quase certeza, funcionava assim: achava que acreditava saber da resposta, pelo menos era o que repetia quando olhava com os olhos arabescos o espelho de todo dia, e assim o repetia, deixando deliberadamente o tempo escorrer pelo ralo junto com o cuspe da pasta dental.
O tempo (outro inimigo?) não alterava as regras do jogo. Nem ele. Não sabia o porque, se não queria mudá-las... as compreendia e tinha a leve impressão que sabia disso desde os seus dezesseis anos. Então somava o tempo nos dedos e ria de si próprio com escárnio. Talvez não do tempo passado, mas de constatar que constatava que o tempo havia passado. É, era seu vilão em uma não tão bem elaborada comédia. Era também seu espectador e outro dilema então surgia para si. gostava de o ser mas se ele se assistia, alguém vivia?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pausa


Olhou para si
e quis continuar assim
olhando e olhando
então sentiu um estremecimento
e um oceano abriu-se entre ela e todos
na verdade sempre existiu esse distanciamento
porém, só agora sentira seus cabelos molhados...

Capítulo 2. Sobre o passar dos dias e o café.



Pensava nos anos que passaram e que continuavam passando. Levava os dias assim, fazendo o que lhe desse na telha, ou não, às vezes era apenas arrastado pelos dias mesmo, nesses não se sentia tão bem, gostava de aproveitar o ócio, quando sentia que até isso perdera, sentia-se deveras frustado. No entanto, no dia a dia não se aborrecia e não tinha maiores preocupações. Sabia fazer bom proveito do seu ócio que a sua fácil vida lhe proporcionara. Era estudante. Era estudante bancado pelos pais, que não eram ricos, mas a quem ele sabia que não estava dando grande trabalho, então não se importava tanto sobre o seu peso sobre outrem, no fundo sentia uma leve culpa, sim sentia isso, afinal criado na sociedade ocidental não conseguia tirar de si todas as morais cristãs e devia ter dentro de si algo além do seu grande ego. Fazia sua parte evitando pensar nisso e se reconfortava novamente com sua condição de estudante bancado. Assim vivia bem apesar de.
Quanto a sua única função, desempenhava-a porcamente, nunca teve problemas reais com os estudos mas nem por isso era um aluno exemplar, aliás preferia não ser, assim dava-se ao luxo de passar despercebido, não era preciso ser posto a prova, evitava este confronto direto, podia passar de forma esquiva, sem brilho, mas também sem manchas. Era uma espécie de segurança que garantia a si mesmo. Das poucas vezes que parou pra pensar em suas qualidades intelectuais notou que nunca se considerou inteligente, mas nem por isso era visto como burro (ou se achava), era simplesmente indiferente, (ou se achava).
Aprendia para si ( ou assim achava), o resto dos conhecimentos que eram úteis as instituições de ensino apenas transitavam em sua cabeça e sumiam, fora assim no colégio também. Essa fora sua vida de estudante e ainda era.
Gostava de ler. Por isso acho que não se achava burro, conseguia ir tirando proveito de todas suas leituras, sugando este ou aquele pensamento para formar o seu, não se importava em ser um parasita mental, acreditava que todos o eram, achava que a inteligência verdadeira, aquela que é a verdadeira criadora, aconteceram muitas poucas vezes na humanidade, o resto fora desenvolvimento de uns três pensamentos únicos, ou sete, como os pecados capitais. Pensamento um, desenvolve, dois, três, quatro, contraria, cinco, desenvolve, seis, sete, oito, contraria, nove. Fora assim com a sapiência da humanidade, era assim com sua própria. Então gostavade se sentir capaz de misturar pensamentos e constituir algo em sua mente como quem faz um bolo, ou um pudim, um pudim de café: ovos, leite condensado, calor e café. Voilá. Essa era sua percepção de si, era um pudim, feito dos ingredientes coletados no seu processo de aprendizagem que era sua vida. Nesse estranho processo era confortável a si saber que ele não precisava ser isso por toda a vida, podia sempre digerir a si próprio e manter algo, talvez os ovos, e se tornar algo salgado, uma salada de maionese. Isso lógico, se almejasse tal, se mais do que querer tivesse a devida força de vontade para tal. O problema não era conseguir os novos ingredientes, era o antes disso. a autofagia sempre foi um processo delicado. O bolo fecal então...

domingo, 14 de setembro de 2008

Capitulo 1. Sobre o tanto faz e a descoberta da sua má índole.


Sabia que tinha que fazer algo. Realmente sabia. Mas não o fazia, tanto por falta de imaginação como por falta de vontade mesmo. Por uma questão física, gastava sua energia mecânica mastigando tampinhas de canetas. Era excelente, recomendava-se para si mesmo sempre, tanto pra passar tempo, como para passar a ansiedade da falta do que fazer e do excesso de não fazer nada.
Não era o fato de não mover-se que o incomodava, não era naturalmente passivo, era um certo tipo de movimento que parecia que não conseguia fazer. Era o não conseguir fazer qualquer coisa que fosse que o fazia matutar.
Gostava de dançar, de brincar, de andar, de muitas coisas, desde que fosse sem rumo e sem propósito, se fosse para fazer cooper, não se animava, cuspia um certeiro “não, obrigado”. Agora, se se tratasse de um passeio, sem eira nem beira, sem vamos até aquele pontinho seguindo aquele caminho, sabia-se de antemão que podia contar com ele. Era como era.
Talvez fosse o propósito das coisas que ele achasse infundado, bestas demais pra motivá-lo, desconfiava do que tinha que ser feito e olhava torto para quem quisesse dar pitacos sobre sua vida. “Preguiçoso” pensavam... talvez fosse pura preguiça mesmo.
Preguiça, no sentido de não querer fazer! Aversão mesmo e uma certa insensibilidade moral. Disto não se incomoda, até sentia uma pontinha de orgulho de se permitir ser insensível desta maneira tantas e tantas vezes. Independente de dizerem a ele que fosse necessário fazer, inevitável, para viver, para o sei lá, para o que fosse!
não se incomodava, se incomodava com a força mental que as vezes precisava fazer quando queria fazer algo e não fazia simplesmente por não fazer, como por exemplo para ir pra um curso ou uma festa e no fim das contas acabar desistindo no meio do caminho e ficando na biblioteca ou no cinema ou ainda sentado em sua cama olhando para o teto e esperando o tempo passar até se tornar impossível a sua ida. Incomodava-se com o turbilhão de sentimentos que o atingia a essa hora, a desordem em si mesmo, o misto de arrependimento com raiva e alguma felicidade perversa de ter sido vencido por si mesmo. Sabia que isso acontecia, não conseguia deixar de observar e não negava para si mesmo esse censurável sentimento. Era como se sentir sordidamente imundo e ficar satisfeito por isso.
Enxergava-se como desleal consigo mesmo. Como poderia ficar contente com sua própria perda pra si mesmo? No entanto ficava, e internamente um sorriso sacana, sem que ele quisesse, se esboçava.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Nos meus dez anos não fiz nenhuma outra reflexão a não ser a de que eu me sentia velha. Não como quem acha que está mais perto de saída do que da chegada, não se trata desse sentimento, mas sim daquele de quem olha pra trás e acha que deixou o tempo passar.
Olhei o céu laranja, não o azul, esse do dia inteiro... o céu do crespúsculo, o céu poético que permite os suspiros e aconchega nosso corpo na areia quando olhamos o branco das ondas do mar e deixamos os pensamentos irem mais além. Enfim, olhava para cima e pensava em como a gente pode mudar tanto e não mudar nada ao mesmo tempo. Como cachorro que anda em voltas antes de deitar naquele mesmo lugar, desse mesmo jeitinho sentia que levava a vida, com altos e baixos, como quem anda de balanço e por mais que esteja se movendo está sempre revisitando os mesmos pontos.
Por isso me sentia velha, cansada de balançar de um lado a outro, não queria mais brincar e por onde olhasse não via melhores alternativas, rodar no roda-roda, subir e descer na gangorra, ou mesmo que fosse o escorregador, subir escadas e escorregar de formas repetidas, não pareciam ter objetivo... E foi por isso que me dei conta, ninguém mais estava perguntando isso, estavam todos de bom grado na sua ciranda então algo tinha que ter acontecido a mim.
O problema era justamente esse eu não queria ter que optar por um brinquedo como todos os outros, eu queria poder ficar parada olhando o mar por exemplo mas até pra isso se tem hora...

eu? com meus dez anos, estou velha e cansada de relógios.

sábado, 8 de março de 2008


Trabalhar pra comer e comer pra trabalhar.

Uma sobrevida, aí pensamos vamos (sobre)viver melhor...

Então compramos cortinas brancas e samambaias pro nosso recanto, deveras nos agradam os olhos e esboçamos um leve sorriso enquanto mastigamos o mais do mesmo de todos os dias.
Mas é pouco, colocamos então coisas coloridas e fotos de pessoas queridas no lado de nosso pc e no meio do trabalho, assim tornamos mais suportável aquele longo dia de todos os dias, quando pensamos em como foi divertido aquele domingo. Domingo no parque de 9 anos atrás ( puxa, já tem esse tempo todo?)
Mas ainda é pouco, o cansaço nos consome, dedicamos mais da metade de nosso dia no trabalho e quando chegamos temos que cuidar dos nossos rebentos, olhar lição, brincar, dar atenção, não não dá, então aumentamos nossa jornada, lucramos mais e assim podemos pagar aquela aula de reforço, aquela aula de natação, nos ocupamos e os ocupamos, assim quem sabe estando ambos cansados possamos ignorarmso todos. Engraçado como o silêncio nos pode ser aconchegante.
Como é pouco. O ápice de muito de nossos dias é se jogar no sofá enquanto não ouvimos nada além do pavoroso trânsito que está por detrás da janela, uma sensação de mero alívio por não termos mais daquilo por hoje.
Mas as vezes ainda assim, nós sentimos uma angústia, sentimos a vida sufocando, então precisamos mascarar isso, então compramos nossos entorpecentes, tvs, computadores, assim matamos nosso tempo e evitamos da perturbadora atividade do pensar.

Ir naquela velha pelada, andar de bike, pegar aquela piscina, ir em uma praia isolada, fazer uma farofada no quintal, tudo isso, ou qualquer disso se torna menos frequente, exige muito da gente, é divertido! sim, a gente sente que nunca mais riu daquele jeito, (será verdade?) e passamos metade do dia contando velhas estórias, (muito velhas, às vezes). Mas, acabamos nos desgastando muito, estamos acabados depois da farra, correr, pegar trânsito, compras&louças ... e amanhã temos que levantar cedo pro trabalho. Não, melhor não, então ficamos deitados assistindo a pessoas simularem que elas estão fazendo tudo isso, e nos conformamos com isso.
O pouco da sobrevida já nos consome tanto, então a nossa vida não pode ser assim também, não é? Por opção mais e mais, nos anulamos, nos entorpecemos pra sobreviver e achamos que não há saída, então desvivemos.

Desvivemos, comemos,
desvivemos, dormimos,
desvivemos multiplicamos,
desvivemos, morremos.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Deixe eu brincar de ser feliz


nariz pesando
cabeça também
corpo cansado
mente em ebulição
pensamentos ao léu sobre primeiros passos
novos marcos e novos velhos pontos

empolgação com velhas crenças
e não pela diferença externa
ainda em duvida com essa...
e sem ser mesmo indiferente aos possíveis
trancos e pesares
ainda assim, de boa,
pela egoista ( pois não podia ser diferente)
sensação da coerência

________
detalhe de pintura: O sonho e o Tempo
esqueci o nome da moça

sábado, 19 de janeiro de 2008

...e você parada sem se tocar e você calada sem respirar...


Objeto

Coisa de si próprio

Que como massa de modelar

Pode ser hoje caixa e amanhã bola

Objeto

Como uma mascara

Em cada situação

Agindo da maneira esperada

Escorregadia e fria de tal forma

que até a si consegue enganar

odiosa como um escárnio

pois por detrás do gesso

quando os olhos vêem a si mesmo no espelho

entende ainda que desnortedo

que o riso da fria face

é de si mesmo.

Objeto

Nunca sujeito.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Meu nome é Legião, por que somos muitos"


É só questão de perspectiva.
Conceitos como invasão-ocupação, (re)apropriação-roubo, putaria-amor libertário, parcimônia-submissão, preguiça-ócio. Lógico, é o que chamam de leitura de mundo. E sem ser cara ou coroa assim.
Também as reações. Reflexos disso. Cair e se machucar, motivos pra chorar, ficar constrangido, um amigo meu ri, e mais.. ri como criança.

Perspectiva.

Hoje. Situação presenciada.
Uma resposta a uma anul(ação).
"Então deite e morra"

Belezinha de dia.Ordinário.
Perspectiva.


"vida louca vida, vida breve, imensa...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O amor é egoísta.......si si si.. só cuida de si.


O Pensar sobre si de certa forma me leva a pensar sobre o outro também, sobre o que chama-se de relações humanas. Afinal o eu interage com "os outros" e esse pensar sobre o outro por causa do eu ( será que é por causa do eu, Zeus?) me leva a achar que se o motivo é esse, realmente o egocentrismo é uma parada cabulosa, sutilmente cabulosa.
Me levo a questionar se o mundo realmente não gira em nosso umbigo, partidno do nosso e único ponto de vista, é claro.

Claro que diferentes tipos de relações nos levam a diferentes tipos de estimulos e ações mas se você parar pra pensar que toda relação é uma interação de energias e de interesses ( por que não, mesmo que seja o da conquista da amizade...) é também uma relação de poder. Poder conquistar essa amizade por exemplo, quando você acha aquela pessoa gente boa e quer trocar idéia com ela, será que não é um momento da atenção dela que você quer? aproveitá-la para você?
quando quer cultivar uma amizade com ela, será que na verdade você não está cultivando a si mesmo? como plantar belas flores, para que as flores existam ou para que você possa admirar a existência das flores? e por que não desfrutar de seu perfume?

não, não acho que isso torne o eu calhorda, talvez verdadeiramente insensível ao outro, mas por que talvez assim o seja naturalmente e não é por isso que vamos condená-lo né?
mas que isso dá uma outra perspectiva...
pelo menos me dá.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Segunda Lei da Termodinâmica



A grosso modo, a segunda lei afirma que a desordem de um sistema isolado só pode crescer ou permanecer igual.

Tirando pelo fato de eu não ser um sistem isolado, tá massa.
.....

Podia ser mesquinha, podia guardar essa entropia todinha pra mim, mas Papai do céu disse assim "Crescei e multiplicai-vos".

...

Acho que essa é a parte do "multiplicai-vos" então...