domingo, 14 de setembro de 2008

Capitulo 1. Sobre o tanto faz e a descoberta da sua má índole.


Sabia que tinha que fazer algo. Realmente sabia. Mas não o fazia, tanto por falta de imaginação como por falta de vontade mesmo. Por uma questão física, gastava sua energia mecânica mastigando tampinhas de canetas. Era excelente, recomendava-se para si mesmo sempre, tanto pra passar tempo, como para passar a ansiedade da falta do que fazer e do excesso de não fazer nada.
Não era o fato de não mover-se que o incomodava, não era naturalmente passivo, era um certo tipo de movimento que parecia que não conseguia fazer. Era o não conseguir fazer qualquer coisa que fosse que o fazia matutar.
Gostava de dançar, de brincar, de andar, de muitas coisas, desde que fosse sem rumo e sem propósito, se fosse para fazer cooper, não se animava, cuspia um certeiro “não, obrigado”. Agora, se se tratasse de um passeio, sem eira nem beira, sem vamos até aquele pontinho seguindo aquele caminho, sabia-se de antemão que podia contar com ele. Era como era.
Talvez fosse o propósito das coisas que ele achasse infundado, bestas demais pra motivá-lo, desconfiava do que tinha que ser feito e olhava torto para quem quisesse dar pitacos sobre sua vida. “Preguiçoso” pensavam... talvez fosse pura preguiça mesmo.
Preguiça, no sentido de não querer fazer! Aversão mesmo e uma certa insensibilidade moral. Disto não se incomoda, até sentia uma pontinha de orgulho de se permitir ser insensível desta maneira tantas e tantas vezes. Independente de dizerem a ele que fosse necessário fazer, inevitável, para viver, para o sei lá, para o que fosse!
não se incomodava, se incomodava com a força mental que as vezes precisava fazer quando queria fazer algo e não fazia simplesmente por não fazer, como por exemplo para ir pra um curso ou uma festa e no fim das contas acabar desistindo no meio do caminho e ficando na biblioteca ou no cinema ou ainda sentado em sua cama olhando para o teto e esperando o tempo passar até se tornar impossível a sua ida. Incomodava-se com o turbilhão de sentimentos que o atingia a essa hora, a desordem em si mesmo, o misto de arrependimento com raiva e alguma felicidade perversa de ter sido vencido por si mesmo. Sabia que isso acontecia, não conseguia deixar de observar e não negava para si mesmo esse censurável sentimento. Era como se sentir sordidamente imundo e ficar satisfeito por isso.
Enxergava-se como desleal consigo mesmo. Como poderia ficar contente com sua própria perda pra si mesmo? No entanto ficava, e internamente um sorriso sacana, sem que ele quisesse, se esboçava.

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