terça-feira, 16 de setembro de 2008

Capítulo 2. Sobre o passar dos dias e o café.



Pensava nos anos que passaram e que continuavam passando. Levava os dias assim, fazendo o que lhe desse na telha, ou não, às vezes era apenas arrastado pelos dias mesmo, nesses não se sentia tão bem, gostava de aproveitar o ócio, quando sentia que até isso perdera, sentia-se deveras frustado. No entanto, no dia a dia não se aborrecia e não tinha maiores preocupações. Sabia fazer bom proveito do seu ócio que a sua fácil vida lhe proporcionara. Era estudante. Era estudante bancado pelos pais, que não eram ricos, mas a quem ele sabia que não estava dando grande trabalho, então não se importava tanto sobre o seu peso sobre outrem, no fundo sentia uma leve culpa, sim sentia isso, afinal criado na sociedade ocidental não conseguia tirar de si todas as morais cristãs e devia ter dentro de si algo além do seu grande ego. Fazia sua parte evitando pensar nisso e se reconfortava novamente com sua condição de estudante bancado. Assim vivia bem apesar de.
Quanto a sua única função, desempenhava-a porcamente, nunca teve problemas reais com os estudos mas nem por isso era um aluno exemplar, aliás preferia não ser, assim dava-se ao luxo de passar despercebido, não era preciso ser posto a prova, evitava este confronto direto, podia passar de forma esquiva, sem brilho, mas também sem manchas. Era uma espécie de segurança que garantia a si mesmo. Das poucas vezes que parou pra pensar em suas qualidades intelectuais notou que nunca se considerou inteligente, mas nem por isso era visto como burro (ou se achava), era simplesmente indiferente, (ou se achava).
Aprendia para si ( ou assim achava), o resto dos conhecimentos que eram úteis as instituições de ensino apenas transitavam em sua cabeça e sumiam, fora assim no colégio também. Essa fora sua vida de estudante e ainda era.
Gostava de ler. Por isso acho que não se achava burro, conseguia ir tirando proveito de todas suas leituras, sugando este ou aquele pensamento para formar o seu, não se importava em ser um parasita mental, acreditava que todos o eram, achava que a inteligência verdadeira, aquela que é a verdadeira criadora, aconteceram muitas poucas vezes na humanidade, o resto fora desenvolvimento de uns três pensamentos únicos, ou sete, como os pecados capitais. Pensamento um, desenvolve, dois, três, quatro, contraria, cinco, desenvolve, seis, sete, oito, contraria, nove. Fora assim com a sapiência da humanidade, era assim com sua própria. Então gostavade se sentir capaz de misturar pensamentos e constituir algo em sua mente como quem faz um bolo, ou um pudim, um pudim de café: ovos, leite condensado, calor e café. Voilá. Essa era sua percepção de si, era um pudim, feito dos ingredientes coletados no seu processo de aprendizagem que era sua vida. Nesse estranho processo era confortável a si saber que ele não precisava ser isso por toda a vida, podia sempre digerir a si próprio e manter algo, talvez os ovos, e se tornar algo salgado, uma salada de maionese. Isso lógico, se almejasse tal, se mais do que querer tivesse a devida força de vontade para tal. O problema não era conseguir os novos ingredientes, era o antes disso. a autofagia sempre foi um processo delicado. O bolo fecal então...

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